Como torcedor, sempre preferi os jogos fora de casa. O motivo para isso é simples: mais emoção. Estar em minoria, num lugar onde as vezes não se conhece nada, não saber o que vai encontrar pela frente, ter que fazer um planejamento diferente de como chegar e sair do estádio.. o resultado disso tudo é uma deliciosa carga de adrenalina. Por culpa deste hormônio o futebol é ainda mais incrível e viciante. Para um jogo ser digno de final de Libertadores, a adrenalina e a emoção devem ser extremas, e foi o que aconteceu em Montevideo.
Muitas horas antes da partida, ainda a tarde, já se via muitas bandeiras aurinegras e torcedores se reunindo pelas ruas de Montevideo. Era como se nada mais importava, como se todos só pensassem na final. Estávamos em um grupo de 9 pessoas e decidimos chegar duas horas antes do apito inicial por questões obvias de segurança. Mas isso não adiantou muito, nos arredores do Centenário os carboneros já festejavam por todos os lados e o ar já estava temperado com cheiro de pólvora (que, ainda bem, não vinha do revólver que estava no colo do nosso taxista psicopata). Pela janela do taxi olhávamos hordas de torcedores nos cercando e dizendo com os olhos que queriam nos matar, porém, dentro do carro o motorista segurava uma arma e poderia fazê-lo com muito mais facilidade. Ainda assim, sentia que era um cara de sorte, por mais louco que isso possa parecer aqui. Eu estava em plena quarta a noite em Montevideo com vários amigos e prestes a acompanhar uma final histórica de Libertadores. Isso já me bastava.
O recebimento dos carboneros foi algo incrível. De antemão, sabia que tinham preparado mais de 70 mil fogos de artifício e ficava tentando imaginar o efeito disso dentro do estádio. Quando a festa começou foi sensacional, nem com muita criatividade e otimismo eu poderia ter imaginado algo daquele jeito. Eu percorria as arquibancadas locais com os olhos e tentava entender aquela loucura e o porque de não ver algo parecido no Brasil. Na verdade, a diferença das festas não ocorre pelo estilo das torcidas. Tampouco importa se são organizadas ou barra bravas, isso são detalhes culturais. O que acontece é que no Uruguai, assim como na Argentina, podemos explicar as arquibancadas com três palavras: paixão, alegria e anarquia. No Brasil, o brilho das bancadas não é o mesmo porque comparado aos nossos vizinhos latinos vivemos uma ditadura no estádio. E ainda dizem que somos 'o país do futebol'.
Infelizmente, esse pode ter sido o último post do FotoTorcida. Apesar de ser jornalista diplomado e com todos os documentos e registros que possam existir (inclusive cnpj), a entidade que faz o credenciamento dos jogos afirma que "isso não precisa de credencialmento", afinal "são só fotinhos, não é jornalístico" e "tô cansado de vir moleque aqui com blog de torcida querendo se credenciar para entrar de graça nos jogos". A chance das fotos continuarem é bem pequena, a não ser que algum outro meio incorpore o projeto FotoTorcida. De qualquer forma, ficam as muitas amizades feitas na arquibancada e as mais de 15 mil fotos que retratam o que a grande maioria esquece, despreza ou combate.
Viva a festa no futebol, a liberdade na arquibancada e ódio ao futebol moderno!